Na China
Saudações de Yiwu, na China
Espero que estejas bem. Aqui está um calor incrível, acho que nunca senti tanto calor na vida...
Na semana passada contei-te um pouco sobre a vida em Bali e como um jornalista da BBC me ligou por volta da meia-noite (hora de Bali) a partir do Reino Unido... Se perdeste essa parte e queres saber porquê, podes ver aqui.
No domingo à noite, o Bondhan (o nosso homem na Indonésia) levou-me ao aeroporto. O tempo em Bali pareceu curto demais e ficaram muitos trabalhos por terminar... mas enfim, tinha um voo noturno para Guangzhou, na China, para apanhar.
O aeroporto de Bali hoje em dia é super eficiente, parece um sonho passar por lá. Toda a gente é tão simpática e atenciosa, até a segurança e o controlo de passaportes. Comprei uns presentes de última hora, bebi um copo de vinho no lounge e depois fui calmamente até à porta de embarque para o voo noturno da China Southern para Guangzhou.
A bordo, havia apenas alguns lugares em classe executiva, por isso deram-me imensa atenção... mais vinho e mais comida do que conseguia comer. O serviço foi mesmo simpático e acolhedor. Consegui dormir um pouco nas 5 horas de voo e chegámos a Guangzhou às 6 da manhã, com ligação para Yiwu às 8h20.
Da calma ao caos... não estava nada à espera disto. Da última vez que estive na China o aeroporto não tinha praticamente movimento... mas agora estavam milhares de pessoas em filas enormes e sinuosas para o controlo de passaportes. E apenas um jovem a tentar controlar a multidão de indianos, russos, sul-americanos, turcos – todo o tipo de gente estranha, incluindo eu.
De Bali Relaxado para Guangzhou Caótico – Choque Cultural!
Esse choque cultural que normalmente não sinto dentro da Ásia… e o pessoal com quem tive de lidar nesta viagem stressante pelo aeroporto tratou-me (irritantemente) em russo, arrancou-me o passaporte da mão. Recusaram-se a ajudar ou sequer olhar para o meu bilhete quando pedi acesso à fila rápida, já que a ligação era muito curta. Enfim, deixei andar… e lá consegui chegar ao portão a meio do embarque.
Um voo curto até Yiwu – 90 minutos – e uma experiência no aeroporto bem mais tranquila… e lá estava a Coco à minha espera quando saí. Afinal não foi assim tão mau.
No dia seguinte, o Tomas chega de Espanha num voo (tinha andado por lá à procura de um novo armazém com urgência – lembra-te das notícias da semana passada). Encontrámo-nos no hotel dele… onde os funcionários estavam a colocar películas refletoras nos carros ao sol – super útil para evitar que tudo derreta.
O Problema do Calor
Isto é um problema preocupante porque já carregámos alguns contentores com velas… A Coco teve cuidado em garantir que estavam na vertical e não encostadas às paredes do contentor… mas temo que, entre a China e o Reino Unido, apanhem bastante calor. Seja como for… acabámos de receber a notícia de que a UE e o Reino Unido vão impor tarifas (ao estilo Trump) sobre velas de 75% já a partir deste mês. Portanto, as velas vão sair de cena. (dica – faz stock).
O Problema do Temu
Ontem fomos visitar um fornecedor de longa data… compramos-lhe, entre outras coisas, Pulseiras de Pedras Chakra. É um negócio familiar encantador, como muitos: a senhora é a chefe, o marido, o filho e a nora estão todos envolvidos, a separar, fabricar, etiquetar e embalar bijuteria. Trabalhadores incansáveis e entusiastas da joalharia em pedras, como poucos.
Mas depois reparei numa etiqueta… Essa etiqueta tinha sido fornecida pelo Temu – contou-me a senhora. Ela não fala inglês e nem entende. Perguntei-lhe se sabia o que queria dizer “EC REP”. Respondeu: talvez um cliente – não fazia ideia. A Coco explicou-lhe que é a pessoa responsável na UE por representar a empresa caso haja algum problema com o produto… Olhar vazio. O nome da empresa que aparecia no topo… não era o deles. Perguntei quem era. Encolheu os ombros, sem saber.
A questão é que eu reconheço esses nomes… Fizemos compras de teste no Temu e eram exatamente os mesmos nomes que vinham nas etiquetas. E quando se procura esses endereços no Google Maps, são pizzarias ou algo do género. Da última vez que verifiquei, era isso.
Foi então que ela desatou num autêntico desabafo sobre o Temu… exigem stock a preços impossíveis, o que obriga a cortar na qualidade ao mínimo, usando contas falsas ou de vidro.
Depois explicou que, se o stock vende devagar, o Temu cobra “renda”; se a mercadoria atrasa um dia, há multa. São multados vezes sem conta. É difícil conseguir lucro.
Mas continuou: o comércio com os EUA praticamente desapareceu, os negócios não estão bons e, para preencher a lacuna, acabam por recorrer ao Temu, mesmo sendo trabalhoso e ingrato. Os representantes do Temu são extremamente persuasivos, ligam sem parar e prometem mundos e fundos se fizeres negócio com eles… mas a realidade é bem diferente. Já houve até protestos de rua contra isso.
O problema do Temu é enorme… e já encontrámos várias empresas que vendem lá, cujos produtos tivemos de rejeitar. A primeira coisa que fazemos agora é pesquisar no Temu e, se o produto estiver listado, dizemos logo: desculpa, não podemos comprar. Muitas vezes, na verdade até com frequência, um produto giro aparece listado com imagens roubadas e depois o que enviam é uma cópia de fraca qualidade… É um verdadeiro “cão come cão” aqui em Yiwu.
Entretanto, de volta ao Reino Unido… o Halloween está a aproximar-se… já estás preparado para o grande dia? Espreita abaixo os presentes assustadores e místicos.
Desejo-te uma semana.
Cuida-te,
David
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